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Congresso Internacional AVACI / FESAAL 2025 – Encontro Mundial de Autores Audiovisuais: Entrevista com Nikica Zdunić

  • Foto do escritor: AVACI
    AVACI
  • 3 de out.
  • 4 min de leitura
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A cidade de Zagreb será, no mês de novembro, a sede do Congresso da Federação de Sociedades de Autores Audiovisuais Latino-americanos (FESAAL) — no dia 4 — e do Congresso da Confederação Internacional de Autores Audiovisuais (AVACI) — nos dias 5 e 6 — tendo a Associação de Diretores de Cinema da Croácia (DHFA) como entidade anfitriã.


Por Ulises Román Rodríguez

Esse encontro reunirá representantes do setor audiovisual de todo o mundo e colocará no centro do debate um tema decisivo: a proteção dos direitos autorais e o futuro das indústrias criativas em um contexto atravessado por plataformas digitais e novas tecnologias.


Nesse cenário, Nikica Zdunić, diretora, roteirista e vice-presidenta da DHFA, compartilha em entrevista à AV Creators News uma visão lúcida e crítica sobre o estado atual da indústria, os desafios enfrentados pelas mulheres criadoras e as expectativas que despertam ambos os Congressos.


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Nikica Zdunić, cineasta croata e vice-presidente da DHFA


Zdunić começa com um diagnóstico claro: a indústria audiovisual global continua sendo predominantemente masculina, e a Croácia não é exceção. Com estruturas conservadoras e patriarcais, as mulheres enfrentam barreiras sistêmicas para alcançar posições de liderança. “Vi colegas homens, menos qualificados ou com menos experiência, obterem oportunidades que não são oferecidas às mulheres. Isso gera desigualdade nos rendimentos, nas possibilidades de crescimento profissional e nas condições de desenvolvimento”, afirma Nikica.


O principal obstáculo, segundo Zdunić, está “na falta de respeito pela autoridade e pela visão criativa feminina. Mesmo quando alcançam reconhecimento, as mulheres precisam ser excepcionais para serem tratadas como iguais a um homem médio — e ainda assim correm o risco de não serem consideradas para cargos-chave”. À pergunta sobre se houve avanços recentes em termos de igualdade, a resposta foi contundente: “Não”.


O papel das organizações internacionais

Para Zdunić, organismos como a AVACI têm um papel decisivo na reversão dessa situação. A chave está em mudar a conversa: “As mulheres já conhecem as barreiras. São os homens que devem ser responsabilizados, educados e incentivados a modificar práticas excludentes.”


Ela propõe ferramentas concretas: fundos condicionados, incentivos fiscais e métricas de transparência. “A indústria responde à pressão econômica: apenas quando a inclusão for rentável veremos mudanças reais”, afirma.


13+ (2016), Opet, unedogled (2017) y Sovjetski psi (2018), dirigidos por Nikica Zdunić

O Congresso AVACI 2025: impacto local e regional

A vice-presidenta da DHFA não hesita em destacar a magnitude do encontro de novembro. “Sediar o Congresso é uma enorme honra para a Croácia e uma oportunidade única para dar visibilidade à importância dos direitos autorais e do trabalho criativo em nossa região.”


Em nível local, ela destaca que o Congresso permitirá “conscientizar sobre a proteção de nossos direitos como autores audiovisuais” e fomentar mudanças legislativas que garantam “remuneração justa e estabilidade a longo prazo para os criadores.”


Em nível regional, a expectativa é que o Congresso articule os países dos Bálcãs e da Europa Central e Oriental frente a desafios comuns, como sistemas de royalties desatualizados ou proteção legal insuficiente.  “Este é o nosso momento para demonstrar que, mesmo os mercados pequenos, têm voz e devem fazer parte da conversa global — não como observadores, mas como atores ativos”, enfatiza.


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Mesa redonda de gênero no Congresso AVACI 2024

Expectativas e prioridades

Focada nas prioridades deste Congresso, que reúne criadores audiovisuais do mundo todo, Zdunić afirma que são necessários “mecanismos concretos para que as entidades de gestão coletiva influenciem na reforma das leis de direitos autorais e em sua aplicação”, bem como o “fortalecimento da colaboração com emissoras nacionais para garantir a implementação efetiva desses direitos.” Dessa forma, será possível “passar de discussões teóricas a planos de ação que beneficiem, de maneira prática, os criadores — especialmente em mercados pequenos como o croata.”


Faraway (2014), da diretora croata Vanessa Jopp

O desafio digital e a inteligência artificial

A adaptação às plataformas digitais e à inteligência artificial não é, para Zdunić, uma questão de tecnologia, mas de identidade cultural. “O risco está em perder nossa voz autêntica e nos tornarmos meros subcontratados de conteúdo, em vez de inovadores culturais”, adverte.

Nesse contexto, a reforma dos direitos dos autores e uma gestão coletiva eficaz devem atuar como infraestrutura cultural que garanta a sustentabilidade dos criadores e proteja a diversidade diante da homogeneização global.


Sobre o equilíbrio entre liberdade criativa e pressões comerciais, Zdunić distingue com clareza: o cinema artístico e o comercial seguem lógicas diferentes. Mas alerta que o abandono da formação de público dificultou a distribuição de conteúdos de valor. “Acredito firmemente no público. As pessoas sabem reconhecer a qualidade, e a arte significativa deve continuar acessível a todos. Aqui, os meios públicos têm um papel essencial”, ressalta.

O futuro do audiovisual croata

Apesar dos obstáculos, Zdunić vê o futuro com esperança: a Croácia produz todos os anos obras de relevância histórica, sustentadas por uma comunidade de criadores que prioriza a autenticidade e a verdade acima das tendências superficiais. “Sonho com uma sociedade que compreenda o cinema como ferramenta para fortalecer a identidade nacional e que invista em seu desenvolvimento. Quero uma indústria em que os criadores estejam no coração da televisão nacional, onde nosso patrimônio audiovisual seja preservado e acessível a todos”, afirma.

A voz de Nikica Zdunić sintetiza os dilemas da criação audiovisual na Croácia e na região: equidade de gênero, defesa dos direitos autorais, adaptação à era digital e o desafio de manter a autenticidade cultural. Os Congressos da FESAAL e da AVACI — com a DHFA como anfitriã — se projetam como o cenário essencial para transformar essas discussões em ações concretas que moldem o futuro do cinema na Croácia, nos Bálcãs e além.


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